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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Lendo..


Vindo no ônibus. Sim, ainda lendo GODOT. Terminei o primeiro ato. Tive a sensação de que a peça começa pelo segundo e não pelo primeiro. Tive a sensação de que Vladimir e Estragon, Didi e Gogo, estão o tempo inteiro falando deles mesmos. Não. Quer dizer, de que estão falando sobre o fato de serem personagens. Eis o que surge diante de mim: o deslumbre com uma possível metalinguagem, com um metateatro. Com um cansaço meu pela espera de Godot que encontra eco nos personagens. Eles também estão cansados de dizerem sempre o mesmo. De o mesmo fazerem. Eles clamam, eu sinto, por alguma outra novidade que valide sua existência. Por alguma novidade que valide sua espera. CLAMAM OS PERSONAGENS POR OUTRA RUBRICA. Sinto que já não aguentam mais a espera, não porque muito esperaram, mas porque o mundo se utiliza deles para disso falar. São personagens revoltados com o destino de seus destinos. Revoltados com o que com eles fizeram. Por isso dizem, Nós poderíamos nos matar. E eu digo por eles, Nós poderíamos ter nos matado. Mas agora é tarde. Muitas montagens, muitos atores, muitas mãos por sobre eles. Eles já não aguentam. Precisam de uma nova dramaturgia. Precisam de uma nova situação. Dizer o mesmo não com as mesmas palavras, mas com outras. E não parece haver melhor obra para fazer isso do que com ESPERANDO GODOT. Porque virou obra acostumada. Estão esperando Godot e ninguém por eles faz nada. Nada. Artistas ao redor do mundo montam Godot para assegurar que eles não deixem de esperar. Eu quero montar Godot para assegurar alguma chegada possível, alguma concretude imediata, um gozo instantâneo, um reflexo claro deste nosso aceleramento. Quero montar Godot sobretudo para ver suprida uma chegada, mas para ir junto no decorrer das horas percebendo que sim, que mesmo assim - supridos - estaremos sempre esperando. (Posto esperar seja a nossa maneira de lidar com o tempo)...