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sábado, 16 de janeiro de 2010

20 de abril de 1956...

Beckett's 'Waiting for Godot'

By BROOKS ATKINSON | Crítica publicada no THE NEW YORK TIMES | Tradução Diogo Liberano
Não esperem dessa coluna uma explicação para o ESPERANDO GODOT de Samuel Beckett, que foi apresentado no John Golden na última noite. É um mistério envolto em um enigma.

Mas você pode esperar ser testemunha do estranho poder que esse drama tem em transmitir a impressão de alguma melancolia verdadeira sobre a falta de esperança no destino da raça humana. Mr. Beckett é um escritor irlandês que viveu em Paris por anos e uma vez serviu como secretário de James Joyce.

Deste ESPERANDO GODOT não se tem um sentido simples, mas um aproveitamento da experiência do Mr. Beckett em dois mundos que dão conta de seu estilo e ponto de vista. O ponto de vista sugere Sartre - sombrio, escuro, enojado. O estilo sugere Joyce - pungente e fabuloso. Coloque os dois juntos e você terá alguma noção do árido desenho animado de Beckett sobre a história da humanidade.

Literalmente, a peça é composta por quatro personagens desajustados, um garoto inocente que aparece duas vezes com uma mensagem de Godot, uma árvore nua, um ou dois montículos de terra e o céu. Dois dos personagens estão esperando por Godot, que nunca chega. Dois deles são um senhor de terra e um escravo quebrado e choramingando preso ao final de uma corda.

ESPERANDO GODOT é uma alegoria escrita em um tom cruel e moderno, um frequentador assíduo de teatro visitará a encenação buscando pelo sentido. Parece bastante certo de que Godot está para Deus. Aqueles que estão passeando próximo à árvore seca esperam por salvação, que nunca vem.

O resto do simbolismo é mais evasivo. Mas não é uma pose. O drama de Beckett prenuncia - e não expressa - uma atitude através por sobre a experiênca humana sobre a Terra; o pathos, a crueldade, a camaradagem, a esperança, a corrupção, a imundice e exige saber da experiênci humana. A fé em Deus quase desapareceu por completo. Mas ainda resta uma ilusão da fé cintilando nas bordas do drama. É como se o Mr. Beckett visse pequenas razões para se agarrar à fé, sendo incapaz de abandoná-la inteiramente.

Enquanto o drama é montado, o diretor e os atores interpretam a peça como se entendessem cada uma de suas linhas. A atuação de Herbert Berghof é vitoriosa em todos os aspectos. E Bert Lahr nunca havia dado uma interpretação tão gloriosa quanto a de seu maltrapilho Gogo, que parece estar pronto para todos os tropeços, como seres humanos perplexos que continuando existindo sem sabe seu motivo.

Apesar de ESPERANDO GODOT ser um drama loquaz, o Sr. Lahr é um ator com tradição na pantomima que possui uma série de maneiras para se circular e fazer caretas a fim de tornar a história mais interessante e teatral, e nos tocar, também. Sua longa experiência como um charlatão o preparou para representar de forma eloquentemente trágica a comédia de uma das almas perdidas desta Terra.

Os outros atores são excelentes também. E. G. Marshall como o companheiro andarilho cuja menta é um pouco mais coerente; Kurt Kasznar como um magistral e egoísta cheio de poder e sucesso; Alvin Epstein  como o escravo que possui uma polêmica sátira para nos entregar de forma mecânica; Luchino Solito De Solis como o desarmado menino - completa o elenco que dá ao difuso drama uma consistente interpretação.

Apesar de ESPERANDO GODOT ser um espanto, como expressaria o Rei de Sião, Mr. Beckett não é um charlatão. Ele tem sentimentos fortes sobre a degradação da humanidade e deu vazão a eles copiosamente. ESPERANDO GODOT é todo sentimento. Talvez seja por isso que é intrigante e convincente, ao mesmo tempo. O público de teatro pode até passar pelo espetáculo, mas não poderá ignorá-lo.