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sexta-feira, 2 de abril de 2010

A espera absurda

"Em Fim de Jogo há alusões à interpretação, como se a rotina das personagens fossem uma mesma peça sendo encenada todos os dias. Como um ator que pede pela sua deixa, Hamm pede a palavra: “ minha vez de jogar”
Segundo Fernando Peixoto, o caráter de meta teatro já foi indicado pela crítica: “Em Godot, afirma Robbe-Grillet, os personagens estão cerceados numa liberdade fundamental: eles não podem se ausentar do palco, é o trágico être-là, presenças permanentes, irremediáveis”.
Vladimir e Estragon têm a opção de fugir; eles não estão presos como outros personagens de Beckett ( Mallone à cama; Hamm à cadeira; Nagg e Nell a latões); mas ainda algo os impede. Permanecem como atores que interpretam o mesmo papel dia após dia. Como no meio caminho entre o vagabundo errante da primeira prosa e as personagens enclausuradas que se tornariam maioria na obra de Beckett, Didi e Gogo tem uma estrada à frente, mas não se movem. São incapazes para tanto, assim como são incapazes de se tornarem capazes.
A dança e o discurso de Lucky , a pose de manequim de Vladimir, a discussão entre este e Estragon, assim como o momento em que eles imitam Pozzo e Lucky, são todos trechos da peça que corroboram o caráter artificial, farsesco, de suas vidas e dos atos que a preenchem. "

( Dantas, Gregório. A espera absurda: comentários sobre Esperando Godot (UNICAMP ) )