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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Falo..........

Onde estamos? No meio do furacão, sim. Não tenho dúvida alguma. E está bom. O caos nunca foi tão maravilhoso. O que temos? Estou me perguntando isso sempre e percebo que esta pergunta já não é a mais apropriada. Talvez devesse ter me perguntando o que estamos? O que estamos? Porque o tempo está sendo o da vivência, o da experiência. Qualquer sensação de captura e manutenção se perde em si mesma. Fica sempre o segundo que foge. Fica sempre a experiência que é pele e corte e memória. Tanta coisa. Tanta reunião. Tantas escolhas. O plural. O singular. Está sendo difícil bancar o embate. Está sendo difícil. Está sendo. Ponto.

Para a experiência estética se efetuar não deve haver determinação do sujeito em relação ao objeto – colocando em xeque, portanto, a hierarquia de um entendimento ativo sobre uma sensibilidade passiva.

O que parece interessante na leitura kantiana é a compreensão da experiência estética como fundadora de uma abertura singular do sujeito ao mundo e aos outros.

A aposta na potência da imaginação nasce no momento em que o homem se vê diante de um futuro aberto à experimentação e ao novo. Esta liberdade vai estimular o rompimento com os preceitos técnicos e normativos das academias de belas-artes que regiam as práticas artísticas, gerando, por um lado, um novo território de liberdade e originalidade e, por outro, uma desorientação frente aos parâmetros que garantiam a priori o estatuto artístico das obras.

Só pelo desinteresse é que os fenômenos são eles próprios. Eles se afirmam pelo mero fato de aparecerem, enquanto forma, para um sujeito, que os deixa ser livremente. Esse desinteresse é o que faz um fenômeno estético, uma obra de arte, ser e não ser simultaneamente realidade, assumindo-se sob o registro de “como se” que dá aos fenômenos a potência de serem possíveis sem serem atuais.

O interesse torna as coisas disponíveis para servirem aos fins impostos de fora às coisas. “Qualquer coisa que tomemos a partir do interesse é sempre representada tendo em vista alguma outra coisa”.

O vir-a-ser da obra, que é o lugar da manifestação da verdade da arte, não se explica pelas intenções do artista, mas pela maneira como estas se transformam em obra.

O ponto é pensar o ato criativo como uma intencionalidade sem intenção, que permita ao espectador julgá-la com o mesmo despojamento do fenômeno natural. É bom lembrar que sem desinteresse não há autonomia do fato estético, e, se a criação for puramente intencional, ela é mero resultado de um saber fazer, de uma técnica.

“O que faz da arte um enigma é o fato de que, apesar de ser uma atividade intencional, ela o é de forma a que nenhuma descrição das intenções do seu vir-a-ser possa esgotá-la”.

Não se trata de falar nestes mesmos termos para o artista hoje, mas sim de que ainda haja algo no fazer artístico que deve se manter como mistério, como inexplicável, como surpreendente.

Citações retiradas do livro RAZÕES DA CRÍTICA, de Luiz Camillo Osorio.

Caramba. Essas coisas ficaram na minha cabeça depois de ter lido este texto para um disciplina na faculdade. São incríveis. Essa relação da crítica ante à experiência estética. Fortaleceu ainda mais o processo que estamos empreendendo. Percebo a partir deste texto o quanto o nosso movimento não se submete ao movimento que poderíamos dizer ser o movimento a priori. Isso porque estamos indo pela intuição. Mesmo. Isso nos dá o mundo, a liberdade e, sobretudo, a desorientação. Eu estava um tanto preocupado em como montar uma peça que fala de erros e tentativas sem que caísse num movimento decorado e ensaiado de tais erros e tentativas. Pensava que esse ensaiado iria aniquilar a verdade do processo. Aniquilar a experiência que estamos vivenciando em sala de ensaio. Eu estava ligeiramente preocupado. Começando a pensar em performance, em como deixar o espetáculo mais aberto. Enfim… Passou. Não é isso. Era medo, sei lá, desespero ante ao incontrolável caos do universo! Muitos risos. Muitos risos muitos. Daí li isso e as coisas se ajustaram. Quer dizer que importa não a minha intenção do erro e da tentativa, é verdade, importa como vamos transformar essas intenções em obra. Destas intenções já não podemos escapar. Pois que então elas sejam o espetáculo naquilo que elas tenham de mais misterioso e revelador.

O mistério. Tenho pensado tanto nisso. Não esgotar. Sugerir. Nem sempre explicar. Nem sempre intencionar. Deixar as incoerências brincarem com os sentidos. Deixar que façam filhos em cena. O absurdo, a lógica, tudo brincando sem freio sem modelo. Percebemos num ensaio dia desses como uma lógica absurda é plena de sentido. É ela possuidora de algum sentido seu. Não vamos condenar. Vamos amar. O ponto é pensar o ato criativo como uma intencionalidade sem intenção. E foi quando lembrei o quanto estamos falando de não sinalizar o sentido daquilo que agimos. Não dizer que foi erro, não dizer que foi erro. Nosso ato de criação intencionalmente não tem intenção. É um espaço aberto para a recepção. Tem que ser experimentado. Não vai se dizer, não vai se dizer. Talvez, inclusive porque não se saiba. E qual é o problema nisso? Quem foi que disse que uma obra é esclarecimento? Eu tenho achado que a nossa obra vai ser um grande e pesado ponto de interrogação. Não?

Ontem antes de dormir, a encenação ESPERANDO GODOT que viaja dentro da minha cabeça me disse: Eu não quero ser lida no primeiro momento! A obra gritou, é verdade. Ela gritou: NÃO QUERO SER LIDA NO PRIMEIRO MOMENTO! É preciso, portanto, abri-la, como fossem petálas de flor. Mas temos fome. Não vai ser uma abertura assim tão generosa, querida obra. Haverá violência. Mas também amor. Complexo assim. Nem sim nem não talvez talvez.