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domingo, 6 de maio de 2012

Psicologia Invertida

Reflexões Sobre o Ensaio de Ontem (05 de Maio) Indo de Ônibus em Direção ao Ensaio de Hoje

O trocador acabou de me alertar que um cara foi assaltado dentro do ôonibus por ter tirado o seu laptop para fora da mochila. Bom, é só mesmo o que falta acontecer. Paciência. Vou seguir escrevendo.

No ensaio de ontem aconteceu uma coisa muito engraçada. Quer dizer, não teve graça, na verdade aconteceu algo bastante sintomático neste processo. A atriz Natássia Vello (que agora integra o elenco original de MIRANDA e substitui Fabíola Sens) teve, como dizer?, um pânico processual. Uma fobia expressa. Um entupimento explodido em choro descontrolado.

Quero dizer: tive que interromper o ensaio pois de fato não fazia sentido continuar. Mas percebi - conversando com as meninas - algo muito interessante: a construção das personagens em MIRANDA (ou a construção dos seus respectivos lugares enquanto atrizes nesta encenação) coloca as meninas num lugar invertido.

Lugar este espaço para a gênese de uma poética da negação.

Quero dizer - parte II - não há construção de uma psicologia do meu papel, da minha personagem. O que há é um jogo a ser jogado - dramatúrgico e cênico - que se constitui e se firma mais e mais a cada segundo que problematiza e transtorna a psicologia pessoal de cada atriz. Ou seja: quanto mais movem seus corpos e estados e crenças e facilidades/dificuldades na realização da cena, mais se está MIRANDA e menos se está a si própria. Jogar MIRANDA é jogar o instável. O tempo inteiro. E, convenhamos, quem realmente está curtindo ficar na corda bamba?

Sugiro aqui um movimento curioso para se pensar a tal da poética da negação (FLORES, L.). Eu quero dizer que não há construção da personagem (com seus psicologismos e afins). Há um movimento do ser atriz que funciona na medida em que cada uma das meninas se permite ser estando. É menos ser alguma coisa e mais estar ali, de corpo aberto e com corpo aberto presentemente.

Mais do que sobreposições de camadas, de habilidades, de subtextos e desejos/vontades, o que deve ser somado em seus corpos são apenas os segundos (que morrem e nascem numa rapidez assustadora) e a capacidade de transitar entre eles. De sair de um ponto tal e já se ver firme noutro ponto (por vezes muito distante e oposto ao original).

Estas coisas que venho escrevendo, estas reflexões pós-ensaio, são tentativas muito imediatas de lançar por sobre a criação do espetáculo um olhar mais atento de seu percurso criativo. Ontem nos aconteceu isso. E me pareceu mesmo um achado ter conseguido ver como a construção psicológica em MIRANDA é justamente a desconstrução e o assassinato de qualquer psicologia que se almeje como inteireza, como centro e eixo regulador.

Não há unidade. A unidade seria a completude (?). Em MIRANDA, abrimos vagas para nunca esquecer que há falta e desejo, a mover o espírito e o corpo.

MIRANDA é um liquidificador desgovernado e as meninas, farinha água leite e ovo.

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